Às
vezes, vejo alguma coisa diferente do habitual, desconfio, sinto algo estranho
pairando no ar e não consigo identificar o que me causa aquela estranheza. Os
olhos podem enganar nossa alma, os meus já me enganaram em vários momentos.
Talvez porque eles estejam atentos demais, trabalhando mais do que
deveriam, tendo que lidar com muitas e muitas informações o tempo todo. E o que
seria óbvio, pode escapar à razão. Sou extremamente visual, guardo muitas
imagens comigo. Talvez por isso não consiga processar com tanta rapidez tudo o
que vejo, mas quando preciso, basta vasculhar e a lembrança está lá.
Com
os outros sentidos é bem diferente. É como se estivessem anestesiados e
qualquer situação que fuja da normalidade, me
transporta a outro mundo.
O
olfato é um desses sentidos. Não guardo todos os cheiros na memória, só alguns.
Os principais. E geralmente ligados a uma coisa muito boa ou muito ruim. Não há cheiros mais ou menos...
O
cheiro de bebê, cheiro de hospital, cheiro da casa da minha avó, cheiro da
comida da minha mãe, cheiro da loção pós-barba do meu pai, cheiro do perfume do
primeiro grande amor, cheiro de Natal, cheiro de mato, cheiro de
chuva... Cheiros que me fazem fechar os olhos e me levam a um local distante ,
intocável na memória e preservado no coração. Há dias em que acordo e saio para a rua, juro por tudo, sinto cheiro de lembrança boa no ar, de algo que não sei o que é, mas que me dá a certeza de que terei um dia muito bom. Não falha!
Com
a maternidade, descobri que cheirar seus filhos é uma prática necessária e deliciosa. Não
tem como não beijar, abraçar e cheirar aquele pescoço miúdo e sentir todo
aquele amor exalando em cada poro.
No
dia à dia, até beijamos conhecidos, amigos... agora cheirar é mais sério. Só
nos permitimos fazê-lo com quem temos um carinho especial, algo a mais. Talvez
por isso, em alguns locais do Nordeste brasileiro se mandem cheiros, em vez de beijos. É muito
mais carinhoso e muito mais íntimo... e deixa muito mais marcas (na alma).